Negando o Criacionismo: Uma Defesa da Ciência e da Teoria da Evolução
Desde a publicação de A Origem das Espécies por Charles Darwin em 1859, a teoria da evolução se estabeleceu como uma das mais robustas e comprovadas estruturas científicas da biologia moderna. Ainda assim, mais de 160 anos depois, ela continua sendo questionada por setores religiosos que promovem o criacionismo — a crença de que a vida, a Terra e o universo foram criados por intervenção divina, conforme relatos de textos sagrados. Esse embate entre ciência e fé não é apenas conceitual: ele tem implicações diretas na educação, na formação do pensamento crítico e na maneira como sociedades inteiras compreendem o mundo natural. Este artigo propõe uma análise baseada em evidências sobre por que o criacionismo deve ser rejeitado como explicação científica e por que a teoria da evolução permanece a melhor resposta para a diversidade e complexidade da vida.

Negando o Criacionismo: Uma Defesa da Ciência e da Teoria da Evolução
1. O que é o criacionismo?
O criacionismo parte da premissa de que o universo e todos os seres vivos foram criados por um ser sobrenatural, geralmente identificado como Deus. Existem diversas vertentes:
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Criacionismo bíblico literalista: interpreta a narrativa do Gênesis de forma literal, afirmando que o mundo foi criado em seis dias há cerca de 6.000 anos.
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Criacionismo progressivo: aceita alguma passagem de tempo, mas ainda defende a intervenção divina direta em momentos-chave.
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Design inteligente: uma versão mais moderna e "disfarçada" de criacionismo, que afirma que certas estruturas biológicas são complexas demais para terem evoluído sem a ação de um “designer”.
Em comum, todas essas abordagens partem de dogmas religiosos e não seguem o método científico.
2. Por que o criacionismo não é ciência?
A ciência é um processo sistemático de investigação do mundo natural, baseado em observação, hipótese, experimentação, revisão por pares e falsificabilidade. Ou seja, uma teoria científica precisa ser testável, passível de ser refutada e baseada em evidências.
O criacionismo, por outro lado:
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Parte de uma conclusão prévia (a Bíblia ou outro texto sagrado) e tenta encaixar os dados nessa visão.
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Não é testável nem falsificável — não há como provar ou refutar a ação de um ser sobrenatural.
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Ignora ou rejeita evidências contrárias, como fósseis, genética, embriologia comparada, entre outros.
Portanto, o criacionismo pode ser uma crença religiosa legítima para muitos, mas não é ciência e não deve ser ensinado como tal em escolas laicas.
3. A força da teoria da evolução
A teoria da evolução por seleção natural, proposta por Darwin e refinada desde então por milhares de cientistas, é uma explicação científica que:
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É testável e amplamente comprovada por fósseis, genética, observações em tempo real e biogeografia.
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Se adapta às novas evidências, o que é uma virtude da ciência, e não uma falha.
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Une todas as áreas da biologia: da microbiologia à ecologia, da paleontologia à genética molecular.
A evolução explica como organismos se diversificaram a partir de ancestrais comuns, como as espécies se adaptam ao ambiente e como novos traços surgem por mutações e são selecionados ao longo do tempo.
4. As evidências que refutam o criacionismo
Há uma montanha de evidências que contrariam o criacionismo literal. Algumas delas:
🧬 Genética
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O DNA humano compartilha 98,8% com o dos chimpanzés — uma evidência fortíssima de ancestralidade comum.
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Genes vestigiais e pseudogenes (como o gene da vitamina C, inativo em humanos) mostram traços de uma evolução imperfeita — o oposto de um "design inteligente".
🦴 Fósseis
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A existência de formas intermediárias (como o Tiktaalik, entre peixes e anfíbios, ou o Archaeopteryx, entre répteis e aves) confirma a transição entre grupos.
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A estratificação geológica dos fósseis contradiz a ideia de uma criação simultânea.
🌍 Biogeografia
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A distribuição de espécies no planeta (como marsupiais isolados na Austrália) só faz sentido com base em processos evolutivos e deriva continental, não em um único ato de criação.
🧫 Evolução observada
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Bactérias que evoluem resistência a antibióticos.
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Aves que mudam o formato do bico em poucas gerações, como documentado nas Ilhas Galápagos.
Essas evidências são empíricas, testáveis, acumuladas por séculos e constantemente revisadas — tudo o que o criacionismo não é.
5. O perigo do ensino criacionista
Ensinar criacionismo como alternativa científica à evolução em escolas públicas é:
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Uma violação da laicidade do Estado, ao promover uma visão religiosa específica.
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Um desserviço educacional, que desinforma alunos e compromete sua compreensão do método científico.
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Um obstáculo ao pensamento crítico, ao apresentar crenças dogmáticas como se fossem hipóteses racionais.
Diversas decisões judiciais ao redor do mundo (como nos EUA e no Brasil) já afirmaram que o criacionismo não deve fazer parte do currículo de ciências.
6. “Mas é só uma teoria…” – o erro comum
Um argumento comum dos criacionistas é dizer que "a evolução é só uma teoria". Mas na ciência, “teoria” não significa “palpite” ou “opinião”. Significa uma explicação abrangente, baseada em evidências, que resiste ao teste do tempo.
A teoria da evolução é tão científica quanto a teoria da gravidade ou a teoria atômica. Rejeitá-la por razões religiosas é negar o funcionamento básico da ciência.
7. Ciência e espiritualidade podem coexistir — mas com limites claros
Não se trata de um ataque à fé pessoal. Muitas pessoas religiosas aceitam a evolução e a ciência moderna. O problema surge quando a fé tenta ocupar o lugar da ciência no espaço público, como na educação, na legislação ou na saúde.
A crença pode oferecer sentido pessoal, mas não deve ditar o conhecimento científico compartilhado.
Conclusão: O futuro pertence à razão
Negar o criacionismo não é desrespeitar a fé de ninguém. É afirmar a importância da ciência, da educação de qualidade e do pensamento crítico para a construção de sociedades mais livres e informadas.
A teoria da evolução continua a ser um dos pilares mais sólidos do conhecimento humano. Defender sua centralidade nos currículos escolares e nos debates públicos é um ato de responsabilidade, não de intolerância.
Se queremos formar cidadãos preparados para enfrentar os desafios do século XXI, devemos garantir que a ciência — e não os dogmas — guie nossa compreensão da vida e do universo.