O Ateu que Acidentalmente Ganhou o Bingo da Igreja
Nem todo mundo esperava encontrar um ateu dentro de uma igreja – e muito menos um ateu que resolvesse participar do bingo beneficente promovido pela paróquia local. No entanto, a vida tem suas ironias, e a diversão começa justamente quando alguém decide romper expectativas. “O Ateu que Acidentalmente Ganhou o Bingo da Igreja” é uma comédia de erros recheada de situações inusitadas e piadas prontas para converter até o mais cético dos corações… ao menos por algumas horas!

O Ateu que Acidentalmente Ganhou o Bingo da Igreja
Os sinos da Igreja de São Benedito badalaram às cinco e meia da tarde, convidando todos os moradores para o tão aguardado bingo de caridade. Essa tradição, anual e sagrada para a maioria, sempre levantava fundos para a reforma do telhado ou para a compra de cestas básicas. Desta vez, porém, a comunidade veria acontecer algo jamais registrado nos anais da paróquia.
Jonas Barbosa, descrente convicto e famoso “reclamão” do bairro, chegou ao salão principal segurando um copo de refrigerante barato e lançando olhares curiosos por todos os cantos. Ele vinha com um propósito claro: provar que aquele bingo era, em sua visão, “puro golpe” para deixar as beatas felizes e o padre com uns trocados extras para consertar os vitrais.
Assim que entrou, foi recebido por Dona Eulália, a ministra da Eucaristia e principal organizadora do evento. A senhora, com seu sorriso de orelha a orelha, não se abalou nem um pouco ao ver o “ateu oficial” do bairro. Pelo contrário, esfregou as mãos e lhe entregou um cartão de bingo.
— Não tem problema se você não acredita em Deus, Jonas. Acreditando ou não, o bingo é pra todos!
Ele respondeu com um sorriso amarelo, comprou algumas cartelas – afinal, precisava “entrar” de verdade no jogo para desmascará-lo – e sentou-se no canto do salão.
— Vocês vão ver só, aposto que esse bingo aqui está armado pra algum parente do padre — murmurou, vigiando a distribuição dos cartões.
O padre Inácio, um homem de voz grave e simpatia inquestionável, deu início ao sorteio. As crianças corriam com saquinhos de pipoca, enquanto as senhoras acompanhavam cada bolinha com atenção absoluta. Jonas fingia interesse só para não chamar atenção, mas, no fundo, estava ali para confirmar a sua hipótese: ele, sendo o “descrente”, jamais seria sortudo o bastante para ganhar.
Entre uma leitura e outra de números, Jonas resolvia dar uns goles no refrigerante e jogava conversa fora. Talvez por distração, ele começou a ticar os números da cartela… e cada vez que o padre Inácio anunciava um “B-7!” ou “I-28!”, as bolinhas pareciam coincidir exatamente com o cartão de Jonas.
De repente, notou que já tinha quase tudo preenchido. Ao ouvir “G-49!”, seu coração deu um pulo – não porque acreditasse em milagres, mas porque faltava apenas um número para completar a cartela inteira. E foi então que, do alto do palco improvisado, ecoou a voz retumbante do padre:
— N-33!
Quando Jonas conferiu o cartão e percebeu que seu bingo estava completo, soltou um berro tão inesperado que quase derrubou a própria cadeira:
— BINGO?!
O salão silenciou de imediato. Todas as cabeças se viraram na direção dele, inclusive a de Dona Eulália, que estampava no rosto um misto de alegria e surpresa:
— Quem diria… O Jonas ganhou!
Parecia pegadinha do destino. Jonas levantou as mãos, abanando o cartão cheio de marcas de caneta, incrédulo. As pessoas começaram a bater palmas e a vibrar. Em meio a aplausos, sorrisos e gritos de “aleluia!”, o padre Inácio convidou Jonas a subir ao palco.
— Parabéns, meu filho! Você acaba de ganhar… um final de semana em um resort ecológico cristão! – anunciou o padre, levantando um certificado com letras grandes e douradas.
O que se seguiu foi uma cena digna de comédia pastelão: Jonas, ateu convicto, diante de uma congregação emocionada, recebendo um prêmio oferecido por uma instituição religiosa. No meio das palmas, ele tentava manter a calma. Pensava: “Devo recusar o prêmio por questões de princípio ou aceitar e provar que não existe essa de força divina?!”
Decidiu, com leve constrangimento, aceitar. Afinal, até um ateu gosta de uma piscina e de um bom descanso. Assim que pegou o certificado, ouviu a multidão vibrar:
— Viva! Deus escreve certo por linhas tortas!
De imediato, Jonas imaginou a quantidade de piadas que ouviria sobre “agora ele finalmente vai ver a luz” ou “só Deus salva”. Mas, como o prêmio já estava em suas mãos, não havia muito o que fazer. Logo foi rodeado por vizinhos e conhecidos que, com curiosidade genuína, o parabenizavam e lhe davam tapinhas no ombro.
— Então, Jonas, é o poder divino agindo? – perguntou Dona Matilde, uma senhora que vendia salgados na porta da igreja.
— Ah, é… é o poder, com certeza, Dona Matilde – respondeu Jonas, com um sorriso que não sabia se era de nervoso ou de diversão.
Mas as cenas hilárias não terminaram aí. No dia seguinte, alguém do jornal local apareceu, ansioso para entrevistar o homem “que não acredita em Deus, mas ganhou no bingo da igreja”. Jonas tentou dispensar:
— Olha, isso tudo foi coincidência estatística, entende? Pura matemática! – insistia.
Contudo, a repórter não estava nem um pouco interessada em números. Queria apenas um bom título de manchete: “A Graça Divina Alcança até os Incrédulos”.
A notícia acabou correndo pela cidade e redes sociais: “Ateu Ganha Bingo na Igreja e Vai Passar Fim de Semana em Resort Religioso”. Com isso, Jonas recebeu inúmeras mensagens no celular, inclusive de pessoas com quem nunca tinha trocado mais do que “bom dia”. Sua família se divertiu – ou tirou sarro, dependendo do parente. Alguns diziam:
— Não vai queimar a pele se pisar lá, não, Jonas?
A saga prosseguiu quando ele, mesmo sem grande entusiasmo, decidiu usar o prêmio. Afinal, estava tudo pago. Quando chegou ao tal resort, encontrou símbolos religiosos em cada canto – crucifixos, imagens de santos e uma programação que incluía retiros espirituais, missas e palestras sobre fé.
Para manter a diplomacia, Jonas explicava a cada novo amigo que fazia por lá:
— Olha, eu respeito todo mundo, mas sou ateu, tá? Vim só porque ganhei o prêmio.
Contrariando suas expectativas, não foi hostilizado. Pelo contrário, muitos religiosos viram a presença de Jonas como oportunidade de diálogo e curiosidade. Ele, sem querer, acabou travando conversas interessantes sobre filosofia, ciência e religião. Enquanto aproveitava a piscina, a sauna e a deliciosa comida, trocava ideias com pessoas de fé. De vez em quando, soltava uma ou outra piadinha, mas o clima se manteve amistoso.
No final de semana, ao regressar para casa, Jonas percebeu que o maior prêmio de todo aquele episódio não havia sido a estadia em si, mas a surpresa de ser tratado com respeito por gente que, em tese, pensava de forma completamente diferente da dele. Era como se o destino – ou alguma probabilidade altamente improvável – tivesse colocado aquelas pessoas em seu caminho para mostrar que, mesmo com descrenças, diferenças e posturas opostas, havia espaço para tolerância.
E assim o ateu que não acreditava em milagres protagonizou seu próprio “milagre da convivência”. Quando retornou à cidade, continuou sendo o cético do bairro, mas, curiosamente, um cético um pouco mais leve, capaz de rir de si mesmo – e de compartilhar histórias impagáveis sobre como quase virou manchete de jornal religioso.